A COMUNIDADE DAS BEATITUDES, UMA FAMÍLIA ECLESIAL DE VIDA CONSAGRADA
Publicado no 04 Janeiro 2021

No dia 8 de dezembro de 2020, durante a Missa da Solenidade da Imaculada Conceição, na Casa Comunitária de Blagnac, Dom Robert Le Gall, Arcebispo de Toulouse publicou oficialmente o decreto de reconhecimento da Comunidade das Beatitudes, erigindo-a como “família eclesial de vida consagrada” de direito diocesano.
Esta nova etapa, preparada há mais de dez anos, é uma etapa importante para a Comunidade, mas também para a Igreja. Com efeito, é a primeira vez que, a pedido da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), se erige um Instituto de Vida Consagrada com este nome.
Família eclesial de vida consagrada: o que é?
Comecemos por relembrar o que é a vida consagrada hoje…
A vida consagrada diz respeito a todos os que se comprometem no celibato por amor de Cristo e do Evangelho. A vida consagrada tradicionalmente apresenta-se sob as seguintes formas:- vida religiosa apostólica, monástica e missionária,
- Institutos Seculares,
- os eremitas.
Família eclesial de vida consagrada
Este novo tipo de instituto de vida consagrada foi criado pela Santa Sé para responder ao desejo de certas novas comunidades multi-vocacionais de integrar nelas uma autêntica forma de vida consagrada. Porém, o Direito Canônico não permitia acolher a vida consagrada como era vivida em algumas dessas comunidades. Com efeito, estas apresentam duas novidades essenciais: terem homens consagrados e mulheres consagradas, assim como a presença de todos os estados de vida (leigos, casais e celibatários, consagrados). Foi nos anos 2000 que, a pedido do Papa João Paulo II, o Dicastério para a Vida Consagrada traçou os contornos desta “família eclesial de vida consagrada”: é um instituto de a vida consagrada unindo na mesma estrutura canônica dependente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), os membros consagrados, clėrigos e leigos. Esta nova forma de Instituto “família eclesial” ainda não está fixada no Direito Canônico, mas o Dicastério acompanha sua experiência.A Comunidade das Beatitudes: do Dicastério para os Leigos à Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
A Comunidade foi fundada em 1973 por casais que se sentiram chamados a viver juntos, colocando tudo em comum, como as primeiras comunidades cristãs. Leigos solteiros rapidamente se juntaram a eles para compartilhar uma vida comunitária radical marcada por uma vida de oração muito intensa. As vocações para a vida consagrada e depois para o sacerdócio surgiram muito rapidamente nessa comunidade emergente. Em 1985, Dom Robert Coffy, Arcebispo de Albi, estabeleceu a Comunidade como uma associação privada de fiéis de direito diocesano. Esta experimenta um crescimento rápido e sustentado, levando a várias fundações em todo o mundo. Em 2002, o Pontifício Conselho para os Leigos reconheceu a Comunidade como associação privada de fiéis de direito pontifício, ad experimentum por 5 anos. No final deste período, o Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos convida a Comunidade a refletir profundamente sobre sua identidade e sua estrutura canônica. Deseja-se ajudar os diversos estados de vida que fazem parte do carisma da Comunidade, a vivê-lo em toda a sua plenitude, tendo em conta e respeitando as especificidades de cada estado de vida. Para simplificar, a questão que então se apresentou foi esta: a Comunidade, que inclui todos os estados de vida (casais, leigos celibatários, irmãos e irmãs consagrados, padres, etc.), é uma realidade “laica” ou “consagrada”? Um vasto processo de discernimento iniciou-se em diálogo com a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. Isso levou, em 2009, à decisão de engajar a Comunidade no caminho de sua estruturação como “família eclesial de vida consagrada”. Novos estatutos foram aprovados e, em junho de 2011, a Comunidade foi erigida por Dom Robert Le Gall, Arcebispo de Toulouse, como uma “Associação pública de fiéis de direito diocesano com o objetivo de se tornar uma família eclesial de vida consagrada”. Se os princípios fundadores da Comunidade das Beatitudes permanecem muito presentes, os seus novos estatutos mudaram muitas modalidades práticas, pois a Comunidade agora é composta por três ramos: irmãos consagrados (entre os quais sacerdotes), irmãs consagradas e leigos associados (casais ou celibatários, incluindo diáconos permanentes). Cada ramo realiza sua Assembléia Geral Particular e elege seus próprios responsáveis, enquanto a Assembléia Geral Comunitária elege o Presidente de toda a Comunidade, garante de sua unidade.Reconhecimento diocesano
Atento ao desenvolvimento positivo da Comunidade e após um longo processo de discernimento eclesial, o prefeito da Congregação para a Vida Consagrada, Cardeal João Bráz de Aviz, deu no dia 12 de novembro de 2020, a faculdade a Dom Robert Le Gall, Arcebispo de Toulouse, para erigir a Comunidade das Beatitudes em “Família eclesial de vida consagrada”, de direito diocesano. Este estágio de reconhecimento diocesano é o pré-requisito normal para o futuro reconhecimento pontifício. Concretamente, este reconhecimento não perturbará a vida quotidiana da Comunidade, que vive há dez anos segundo os princípios de uma Família eclesial. Porém, um aspecto mudou, que não é desprezível: como “Família eclesial”, a Comunidade das Beatitudes se insere no âmbito dos Institutos de vida consagrada, os votos (de castidade, pobreza e obediência) dos membros consagrados passam a ser votos públicos, recebidos pela Igreja, e os clérigos são incardinados na Comunidade das Beatitudes. Quase dez anos depois da aprovação dos novos estatutos, este reconhecimento é fruto de um longo caminho que a Comunidade percorreu nas alegrias e nas dores para uma maior maturidade eclesial. Ela reconheceu plenamente seus erros do passado e hoje está grata pelo amor e fidelidade de Deus. Mais do que nunca, ela deseja continuar a participar na missão da Igreja e na nova evangelização, onde está implantada, nos quatro cantos do mundo.
autor : Irmã Laetitia do Coração de Jesus, C.B.
Irmã Laetitia entrou na Comunidade das Beatitudes em 1998. Atualmente está na Casa Geral, em Blagnac (França), a serviço do secretariado geral e da comunicação.